O Design e os Sentidos
Como assim, Gabriel? Todo mundo aprendeu, lá no prézinho, que o ser humano tem 5 sentidos, audição, olfato, paladar, tato e visão! E você não está errado, meu caro leitor, esse são os nossos "sentidos fundamentais", que foram definidos por um carinha chamado Aristóteles há pouco mais de 2300 anos atrás. Mas na realidade, podemos considerar que o corpo humano possui até 33 sentidos distintos!
Pra entendermos melhor, vamos falar sobre o que são os sentidos humanos. Os sentidos são nossa maneira de compreender o mundo ao nosso redor. Nossos olhos, nosso nariz, boca, ouvidos e mãos, são como sensores altamente adaptados para captar estímulos e enviá-los ao nosso cérebro para análise.
Sendo assim, podemos analisar as sensações que sentimos e categorizá-las nos sentidos humanos. Como eu não estou escrevendo um artigo científico sobre os muitos sentidos humanos, vou apenas falar sobre os principais e suas relações com o Design.
Visão:
É talvez o sentido mais usado por nós videntes. Os estímulos visuais são constantes desde o momento em que acordamos até quando nos deitamos para dormir. O nervo óptico é um dos sistemas mais complexos, nós humanos usamos tanto a visão para nos guiar que sua ausência pode até atrapalhar o funcionamento de outros sensores nossos (quem nunca teve que colocar o óculos para ouvir melhor o que alguém estava falando?). Mas até esse sentido fundamental é composto por diversos sentidos como a fotopercepção (percepção da luz) e a chromapercepção (percepção das cores), e é esse último que nós designers gostamos tanto de explorar. Quando alguém pensa em design, geralmente cai na seguinte reflexão "Design é deixar as coisas bonitinhas", o que não está necessariamente errado, mas nosso trabalho vai muito além disso. O uso de cores e formas vai além da percepção estética, diferentes tons e matizes provocam sensações diferentes e podemos usar isso para potencializar a experiência que nosso usuário tem com a interface (seja ela uma cadeira ou uma tela de computador)
Audição:
Na minha opinião, a audição é o sentido mais intenso, que me provoca mais estímulos. Ouvir uma música, uma voz ou um barulho estridente é capaz de estimular muitas coisas no nosso corpo, desde arrepios até angústia. Quando cursava a disciplina de Sonorização e Áudio Digitais com o professor Werther Azevedo, tive o prazer de trabalhar com Foley, uma profissão que nasceu no início do século XX com programas de rádio estadunidenses. Pra quem não é familiar com esse trabalho, um profissional de Foley é responsável pela criação de todos os sons que ouvimos em uma produção de áudio ou de audiovisual. O mais engraçado sobre essa profissão, além do estúdio que parece um episódio de "Acumuladores" é o fato dela ser responsável por implantar falsas referências auditivas, por aumentar e estilizar os sons que escutamos par torná-los mais agradáveis.
Olfato:
Alguns dizem que o olfato é o sentido que nós guardamos melhor na memória. Esse talvez seja um sentido um pouco esquecido pelos designers, nós nos preocupamos muito com a percepção visual e tátil do nosso produto e esquecemos que aromas podem ser catalisadores de sensações muito mais prazerosas. Não é a toa que o mercado de óleos essenciais vem crescendo tanto nos últimos anos. Uma vez, li sobre um designer chamado Chris Hosmer, cofundador da AirPop, que na época da faculdade desenvolveu um relógio que contava as horas pelo cheiro. Seu experimento consistia em cinco lentes de aumento organizadas de modo a focalizar os raios solares em um pequeno copo com óleos essenciais, dessa forma, em momentos específicos do dia, cada lente esquentava o copo a sua frente e liberava seu aroma no ar, permitindo que as pessoas próximas ao relógio tivessem uma noção da hora através do cheiro que estava presente no ar. Pessoalmente, eu achei bastante engenhoso seu projeto, e isso já mostra como a sinestesia (vou falar mais sobre isso daqui a pouco) é uma ferramenta com grande potencial quando queremos melhorar um produto.
Paladar:
Ah, o paladar! Talvez o sentido que eu mais aprecio, mesmo não me provocando reações intensas como o som, o gosto que sinto com uma boa comida é extremamente prazeroso. Sendo uma pessoa que ama cozinhar e experimentar novos temperos, eu constantemente estimulo minhas papilas (os receptores que temos na língua), mas o paladar nunca caminha sozinho, seu grande aliado é o olfato (é isso que diferencia gosto de sabor). Talvez esse seja um pouco complicado de trazer para o design de mídia digital, mas quem sabe no futuro, com impressoras de comida, a gente participe mais desse mercado....
Tato:
O tato é outro sentido que pode ser subdividido, enquanto aquilo que associamos a esse sentido está majoritariamente relacionada às mãos e dedos, nós humanos temos a capacidade de sentir por todo o nosso corpo. A pele humana possui receptores por toda a sua extensão e eles são capazes de perceber dor (nocicepção) e temperatura (termopercepção), de reagir ao estímulos através de espasmos (mecanorrecepção) e também de sentir a sí própria (propriocepção) externa e internamente (interocepção). Quando pensamos no design relacionado ao tato, olhamos para textura dos materiais, para forma que eles têm, a viscosidade de um objeto, mas estimular o corpo vai além daquilo que tocamos, como disse no parágrafo sobre audição, uma música é capaz de estimular a nossa pele e eriçar os cabelos, proporcionando uma experiência corporal completa.
O que nos leva à...
Sinestesia!
A sinestesia é, para alguns, uma desordem perceptiva, mas na realidade é apenas a associação de um ou mais sentidos. Todos nós possuímos alguma capacidade sinestésica, a mais comum é a associação entre cheiro e paladar, por já serem sentidos próximos, podemos imaginar um através do outro. Mas alguns humanos desenvolvem a capacidade de associar outros sentidos e ver a cor dos cheiros, ou a textura de um som. Mas acho que é importante para o designer provocar essa sinestesia, procurar criar essas associações e projetar interfaces que estimulem todos os 5 (ou 33) sentidos!
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